AUGUSTO STRESSER

AUGUSTO STRESSER

ÓPERA SIDÉRIA


A ópera SIDÉRIA fez estreia em 03 de maio de 1912, no Teatro Guayra (prédio antigo, hoje Biblioteca Pública do Paraná), na cidade de Curitiba/PR.

Obra de Augusto Stresser, foi originariamente escrita em 1909 em dois atos, em partitura para piano e vozes. Posteriormente, recebeu acréscimo de um terceiro ato e orquestração de Léo Kessler, adquirindo a forma final como foi apresentada a partir de 1912.

A ópera tem como pano de fundo a Revolução Federalista, que as cidades de Curitiba e Lapa haviam vivenciado poucos anos antes, com dramaticidade, no confronto conhecido como Cerco da Lapa. Por sua vez, o libreto conta a história de um amor romântico e trágico, no triângulo amoroso entre a jovem Sidéria, o idealista Alceu e o apaixonado Juvenal.

CERCO DA LAPA - ONDE SE PASSA A ÓPERA SIDÉRIA

O CERCO DA LAPA

A proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, extinguiu a monarquia brasileira... mas não os vícios administrativos e políticos do regime anterior. Ao contrário, alguns deles foram até acentuados, principalmente nos estados do Nordeste.

Imagem publicada no blog Narrativa Histórica


Mas a reação não tardou, e chegou na forma de uma nova agremiação política, nominado Partido Nacional Federalista, determinado a atuar como oposição ao Partido Republicano, com forte participação dos políticos do Rio Grande do Sul. Os federalistas queriam modificações na constituição republicana, entre estas a total liberdade de imprensa, a limitação dos mandados a quatro anos, e garantias para o lícito processo eleitoral e cômputo de votos, questões que estavam fora dos interesses do governo constituído. 

Entretanto, o movimento, que a princípio parecia regional, cresceu com a adesão da Marinha Brasileira e expandiu-se pelo país. O acirramento culminou com o afastamento de Júlio Castilho, republicano ferrenho e presidente de estado, fato cuja repercussão foi considerada o estopim da Revolução Federalista, que se espalhou por todo o país, transformando-se em uma guerra civil fratricida. As duas correntes rivais se confrontavam, de um lado os federalistas (apelidados "maragatos", lembrando a descendência espanhola e a proximidade do Rio Grande do Sul com o Uruguai, região onde muitos emigraram de Leon, região de Maragateria), e do outro os republicanos (apelidados "pica paus", referência ao chapéu utilizado pelos soldados, onde existia um enfeite de cor vermelha,  na forma de um topete, com aparência similar ao bico do passarinho pica-pau).

Floriano Peixoto decidiu enfrentar os revoltosos. Desinou o General Francisco de Paula Argolo para o comando geral, que em Curitiba requisitou o Coronel Dulcídio Pereira, comandante do 17º Regimento de Infantaria da época. Os revoltosos já haviam entrado em Santa Catarina, ameaçando invadir o Paraná pela cidade de Rio Negro. Para detê-los, em outubro de 1893, com tropas vindas de Curitiba, o avanço foi obstaculizado com a demolição da ponte sobre o Rio da Várzea. Porém, com a ocupação de Paranaguá e Tijucas pelos federalistas, a cidade da Lapa era o último reduto legalista no Paraná, e ponto estratégico para reter o avanço dos insurgentes rumo ao restante do país.

O conflito que culminou nas ruas da Lapa teve início no Rio Grande do Sul e se alastrou pelos três estados do Sul, chegando até o Rio de Janeiro, com objetivo de depor o Marechal Floriano Peixoto. A ação implicou na queda de Tijucas e Paranaguá e na tomada de Curitiba.

No dia 13 de janeiro de 1894, chegaram à Lapa mais de 1.200 combatentes. Com a cidade cercada, o Coronel Carneiro providenciou um trem para a retirada das famílias lapeanas, mas as senhoras da cidade se recusaram a sair, deixando para trás os maridos, filhos, noivos e irmãos que seriam obrigados a combater.

No dia 17 de janeiro de 1894, um batalhão de 639 homens formado por forças republicanas (pica-paus), chefiado pelo General Antônio Ernesto Gomes Carneiro, enfrentou bravamente as forças revolucionárias formadas por cerca de 3 mil combatentes (maragatos), membros do Exército Libertador, comandados por Gumercindo Saraiva. Os combates prosseguiram. 


Morte do general Gomes Carneiro, em fevereiro de 1894, durante o Cerco da Lapa. Quadro mostra o médico João Cândido ao lado do herói - imagem publicada na jornal Gazeta do Povo on line

Nos dias 22 e 23 de janeiro iniciaram os intensos bombardeios. No dia 26, os federalistas tomam um ponto estratégico da cidade, o Alto da Lapa, onde se situa a Gruta do Monge. Novos bombardeios, lançados deste ponto alto e estratégico, atingiram residências e as trincheiras improvisadas.

Mais de 500 pessoas morreram no cerco, entre elas o Dr. José Amintas da Costa Braga e o Coronel Dulcídio Pereira. Em 6 e 7 de fevereiro, os revoltosos ocuparam as casas da rua das Tropas, em combate corpo a corpo. Em um destes embates, o General Carneiro foi ferido no peito e no ventre, e mesmo removido, não suportou a gravidade dos ferimentos, vindo a falecer no dia 9 do mesmo mês. Em 11 de fevereiro de 1894, os legalistas capitularam.

Gal Carneiro

Vitoriosos, os federalistas prosseguiram sua marcha, pretendendo conquistar São Paulo. A esta altura, com objetivo de depor o Marechal Floriano Peixoto o conflito que teve início no Rio Grande do Sul, chegava até o Rio de Janeiro, percorrendo os três estados do Sul, culminando no cerco da Lapa. A ação implicou na queda de Tijucas e Paranaguá e na tomada de Curitiba.

A Lapa, último obstáculo para as forças contrárias à República, resistiu por 26 dias até assinar a Ata de Capitulação (rendição). A cidade enterrou seus mortos, e encarou a difícil e urgente tarefa de reconstruir os escombros.



(foto disponibilizada em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Her%C3%B3is_da_Lapa.jpg, acessada em 05/11/2013)

Porém, os federalistas pouco teriam a comemorar após a vitória no Cerco da Lapa. Nas tropas revolucionárias seguiu-se parcial dispersão, consequência de sérios desencontros entre os líderes federalistas. Parte das tropas retrocedeu até Palmas/PR, depois retornaram a Santa Catarina, e então se dispersaram. Doutro lado, cientes da extensão da tragédia da Lapa, as forças legalistas concentraram-se em Avaré/SP, em número muito superior ao que os revoltosos poderiam enfrentar, pelo quê a nova ordem republicana ao final se impôs.

Os paranaenses, ainda que na maioria fossem indiferentes à república, sofriam com as convulsões da guerra civil que o país enfrentou por décadas. Tal sofrimento está refletido na obra de AUGUSTO STRESSER, que compôs a primeira versão de sua ÓPERA SIDÉRIA em 1909, decorrido pouco mais de uma década da sangrenta tragédia.




FONTES:
BIGARELLA, João José, BLASI, Oldemar, e DIETER, Brepolh, LAPINHA, A natureza da Lapa. Edição Lar Lapeano de Saúde, Edição Comemorativa dos 25 anos, 1997.

Wikipédia, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cerco_da_Lapa.





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